Rodrigo Manga (Republicanos), um dos alvos da operação contra desvios na saúde, assumiu a prefeitura em 2021, depois de dois mandatos como vereador. Em 2025, ele ganhou fama com vídeos chamativos, usando desinformação, que lhe renderam milhões de seguidores.
O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), um dos alvos da Operação Copia e Cola, que cumpre mandados de busca e apreensão em uma investigação de desvio de verba na área da Saúde nesta quinta-feira (10), assumiu a prefeitura em 2021, após vencer as eleições municipais de 2020, depois de dois mandatos como vereador na cidade.
Manga ficou conhecido nacionalmente depois de investir e viralizar com vídeos chamativos com tom de humor nas redes sociais, usando desinformação, que, inclusive, estão sendo questionados pelo Ministério Público, para falar da cidade – e destacar as obras de seu governo.
Com isso, ele ganhou milhões de seguidores nas redes sociais e o apelido de prefeito tiktoker.
Manga foi reeleito prefeito de Sorocaba no primeiro turno das eleições municipais de 2024, quando recebeu mais de 263 mil votos válidos, o que corresponde a 73,75%. O prefeito publicou nas redes sociais uma nota de agradecimento informando que foi a “maior votação para prefeito da história de Sorocaba”.
No entanto, a informação corresponde aos números brutos. Já na votação proporcional, o mais votado foi o ex-prefeito Vitor Lippi (PSDB), quando recebeu mais de 242 mil votos válidos em 2008, o equivalente a 79,35%.
Antes disso, Manga (apelido que vem de uma variação do sobrenome Maganhato) já ganhava destaque na TV e internet em Sorocaba. Ele era vendedor de veículos em uma rede de lojas no Centro da cidade e começou a ficar popular ao aparecer em vídeos anunciando os veículos. Manga também é formado em marketing.
Prefeito ‘tiktoker’
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‘Melhor cidade do Brasil’? Prefeito de Sorocaba usa técnicas de marketing e desinformação para viralizar vídeos — Foto: Instagram/Reprodução
Desde de janeiro deste ano, os vídeos do prefeito divulgando obras feitas pela sua gestão, sempre finalizando com a frase “vem morar em Sorocaba, vamos fazer a melhor cidade do Brasil para se viver”, ganharam milhões de visualizações nas redes sociais.
O bordão fez muitos influenciadores – e até empresas em campanhas na internet – usarem o assunto em alta para engajar nas redes sociais. No entanto, especialistas ouvidos pelo g1 analisaram os discursos, que utilizam técnicas de marketing e desinformação, como uma “busca incessante por reconhecimento”.
Rodrigo Manga soma, até esta quinta-feira (10), quase 6 milhões de seguidores em duas redes sociais – 2,9 milhões no Instagram e 3 milhões no TikTok. Ele tem investido em publicações dos chamados “reels”, que são vídeos curtos e chamativos para engajar com o público na internet.
Em entrevista ao g1, Manga explicou sua estratégia nas redes. “Acho que as pessoas cansaram desse discurso chato do político, daquele discurso longo, muito técnico, que ninguém entende nada”, disse.
Uso de comissionados em vídeos
A TV TEM e o g1 apuram que quatro servidores públicos, com salários até R$ 19 mil, fazem parte do grupo que trabalha para produzir vídeos para o prefeito de Sorocaba.
O Ministério Público está questionando os conteúdos considerados de desinformação e investiga possíveis informações falsas nas publicações. Um dos alvos da apuração é o uso da fórmula de um medicamento que seria implementado em um programa de emagrecimento para a população.
A atuação dos servidores também não consta como suas tarefas oficiais, já que, um deles, por exemplo, está nomeado na Secretaria de Habitação.
O conteúdo, que mostra obras e projetos do seu governo, não é postado nas redes sociais oficiais da Prefeitura de Sorocaba, apenas nos perfis pessoais do chefe do Executivo.
Em 2023, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) entrou na Justiça com pedido de bloqueio de bens de Rodrigo Manga, do secretário de Educação Marcio Carrara, de um empresário e de uma empresa que atuou em um processo de licitação para aquisição de mais de R$ 26 milhões em kits de robótica, em 2021, com suspeita de superfaturamento. O MP denunciou direcionamento na licitação realizada pela Prefeitura de Sorocaba.
O procedimento foi uma evolução de um inquérito civil, que investigava o caso desde 2022. O prefeito continua com os bens bloqueados.
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Crianças precisaram montar o kit de robótica sem ter aulas em Sorocaba — Foto: Reprodução/ TV TEM
Compra de prédio
A ação também citou a questão da compra de um prédio particular durante o governo Manga, que seria usado para sediar a Secretaria de Educação, no bairro Campolim, cuja investigação do Gaeco aponta um superfaturamento de mais de R$ 10 milhões.
O prédio foi adquirido em 2021 pela prefeitura. Em 2022, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar a compra do imóvel.
No caso, já houve condenação, em maio de 2024. Na sentença da juíza Margarete Pellizari, as penas chegam a 23 anos. O prefeito Rodrigo Manga não foi investigado neste processo.
Duas pessoas que atuavam como secretários municipais na gestão de Manga foram condenados – um deles ainda estava no governo quando houve a sentença. Foram condenados também um engenheiro aposentado da Prefeitura de Sorocaba e e dois empresários. Todos estão recorrendo em liberdade.
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Prédio comprado pela Prefeitura de Sorocaba, no Campolim, com valor maior que do mercado — Foto: Google Street View/Reprodução
Operação Copia e Cola
Na manhã desta quinta-feira (10), Rodrigo Manga foi alvo de uma operação da Polícia Federal para desarticular uma organização suspeita de desvios de recursos públicos na área da saúde.
Conforme a investigação, os desvios ocorreram por meio da Organização Social (OS) Aceni, que fazia a gestão da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Éden e ainda faz a da Unidade Pré-Hospitalar da Zona Oeste. O presidente da OS também foi alvo da operação, onde policiais federais fizeram busca e apreensão em Socorro (SP).
Em Sorocaba, policiais federais estiveram na sede da prefeitura, na casa e no gabinete do prefeito, na Secretaria de Saúde da cidade, no diretório municipal do partido e na casa do ex-secretário da saúde, Vinicius Rodrigues.
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Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Sorocaba (SP) e na casa do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos) — Foto: Letícia Paris/TV TEM