Operação Carbono Oculto: como o PCC usa fundos de investimento e fintechs para lavar dinheiro

Megaoperação mira esquema bilionário do PCC

As principais empresas alvos da operação são o grupo Aster/Copape, a fintech BK Bank e o fundo de investimento Reag. Ao menos 40 fundos de investimento foram empregados como instrumentos de ocultação de patrimônio.

Investigação do Ministério Público de São Paulo revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) atuava na importação irregular de produtos químicos destinados à adulteração de combustíveis comercializados aos consumidores. A megaoperação é a junção de três operações: Carbono Oculto, do MP, e Quasar e Tank, da Polícia Federal.

Ao todo, há 350 alvos de mandados de busca e apreensão, entre pessoas físicas e jurídicas.

Apenas em um edifício da Faria Lima, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão. Nas ações, policiais recolheram documentos e computadores em empresas, corretoras e fundos de investimento, incluindo fintechs.

Ao menos 40 fundos de investimento foram usados como instrumentos de ocultação de patrimônio. Uma das fintechs atuava como banco paralelo da organização e movimentou sozinha R$ 46 bilhões não rastreáveis entre 2020 e 2024.

As principais empresas alvos da operação são:

  • Grupo Aster/Copape, donos de usinas, formuladoras, distribuidoras e rede de postos de combustíveis usada pela organização criminosa;
  • BK Bank, fintech financeira utilizada para movimentar dinheiro por meio de contas bolsão não rastreáveis;
  • Reag, fundo de investimento usado na compra de empresas, usinas e para blindagem do patrimônio dos envolvidos.

Entenda abaixo o que fazem as fintechs

Grupo Aster/Copape

  1. A Copape é formuladora que adquire correntes de petróleo já processadas e as mistura para produzir gasolina e diesel. Já a Aster é distribuidora de combustíveis;
  2. Ambas as empresas já foram alvo de investigação do Ministério Público de São Paulo por fraudes fiscais e recorreram à Justiça Federal do Distrito Federal e ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, para tentar recuperar suas licenças de operação;
  3. Em 2022, o MP-SP arquivou a ação sobre irregularidades fiscais da Copape, mas a Secretaria da Fazenda de São Paulo aplicou multas bilionárias que ultrapassaram R$ 2 bilhões;
  4. As empresas pertencem a Mohamad Hussein Mourad e Renato Steinle Camargo. Mohamad adquiriu as duas em 2020 por R$ 52 milhões;

BK Bank

Fundado em 2015, o BK Bank é uma instituição financeira brasileira especializada em soluções digitais para pessoas físicas e jurídicas. Inicialmente era focado em benefícios corporativos como vale-refeição;

A instituição também oferece serviços bancários digitais com funcionalidades como transferências, pagamentos, depósitos, geração de boletos e gestão de cartões pré-pagos;

Entre os meios de pagamento, oferece máquinas de cartão e soluções para e-commerce.

Reag

  • Uma das maiores gestoras independentes do Brasil, a Reag possui R$ 299 bilhões sob gestão, segundo o site da empresa;
  • Foi a primeira empresa de wealth management (gestão de patrimônios) listada na B3, sob o ticker REAG3;
  • Fundada em 2013, a empresa tem aproximadamente 130 profissionais que atuam em áreas como crédito, real estate (mercado imobiliário), equity (patrimônio), legal claims (direitos legais) e special situations (situações especiais);
  • O portfólio da Reag inclui produtos de crédito estruturado como FIDC, CRI e Debêntures, além de FII, Fundos de Precatórios, Quanti, Multimercado e Renda Fixa.

A Reag confirmou busca e apreensão. Em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a gestora anunciou que suas sedes foram incluídas em mandados de busca e apreensão no âmbito da operação.

“Trata-se de procedimento investigativo em curso”, afirmou a Reag em nota.

Megaoperação mira esquema bilionário do PCC

Também foi alvo de busca e apreensão a Companhia Brasileira de Serviços Financeiros (Ciabrasf), empresa de serviços financeiros que atua como uma “spin off” da Reag Investimentos.

“As companhias esclarecem que estão colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários”, acrescentaram.

Como era o esquema de lavagem de dinheiro com fintechs

Segundo as investigações, o grupo usava um esquema sofisticado que, além de lavar dinheiro do crime, gerava altos lucros na cadeia de combustíveis.

Centenas de empresas eram abertas para esconder a origem dos recursos. A fraude envolvia sonegação fiscal e adulteração de produtos.

“Operações financeiras realizadas por meio de instituições de pagamento (fintechs), em vez de bancos tradicionais, dificultavam o rastreamento dos valores transacionados”, afirma a PF. Cerca de 1.000 postos de combustíveis vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.

Parte significativa desses recursos sem lastro foi usada para adquirir usinas sucroalcooleiras e fortalecer o grupo, que incorporou à sua estrutura criminosa distribuidoras, transportadoras e postos de combustíveis.

Os lucros e valores lavados eram então aplicados em fundos de investimento, com várias camadas de ocultação para esconder os verdadeiros beneficiários.

Operação Tank

Como parte da Operação Carbono Oculto, a Receita Federal e a Polícia Federal também deflagraram nesta quinta-feira a Operação Tank, que investiga lavagem de dinheiro do crime organizado envolvendo uma rede de postos e distribuidoras de combustíveis.

As investigações começaram em 2023, quando um ex-condenado por tráfico internacional, investigado na Operação Ferrari, e sua esposa passaram a ostentar bens de luxo em um condomínio de alto padrão em Pinhais (PR), na região metropolitana de Curitiba, sem comprovação fiscal da origem dos recursos.

Além de depósitos em espécie, ao menos 121 empresas suspeitas transferiram cerca de R$ 1,4 bilhão para contas de uma distribuidora de petróleo sem justificativa ou documentação.

Entre 2020 e 2023, uma das distribuidoras declarou faturamento superior a R$ 7 bilhões, mas as evidências apontam que a empresa foi criada com recursos ilícitos ao longo dos anos.

Operação do MP-SP com Receita e Polícia Federal — Foto: TV Globo

Outra instituição de pagamentos, sediada em São Paulo, também foi utilizada para ocultar a origem e o destino dos recursos, enviando mais de R$ 400 milhões para as contas da distribuidora.

No total, estima-se que mais de R$ 20 bilhões foram movimentados em transações bancárias, resultando em aproximadamente R$ 4 bilhões não arrecadados em tributos federais, além de cerca de R$ 1 bilhão inscrito em dívida ativa, de acordo com a Receita Federal.

Por Redação, g1 — São Paulo