Políticos de Barueri transformam Gabinetes em Estúdios de Gravação, mas qual o impacto na governança?
A política sempre se moldou conforme as ferramentas de comunicação disponíveis em cada época. Se no passado as campanhas eleitorais se faziam no corpo a corpo e no santinho entregue nas esquinas e porta-porta, hoje, o campo de batalha político se expande para as redes sociais. Em Barueri, essa tendência se consolidou de forma inegável: prefeitos, secretários e vereadores estão transformando seus gabinetes em verdadeiros estúdios de gravação, produzindo conteúdo constante e assumindo o papel de influenciadores digitais. Mas até que ponto essa prática é positiva? Quais são seus impactos na governança e na qualidade dos serviços públicos?
A força da internet e a necessidade de presença digital
É inegável que a internet revolucionou a comunicação e a forma como as pessoas consomem informação. A política, naturalmente, não ficou de fora desse movimento. Um mandato sem presença digital hoje é praticamente invisível para boa parte da população. E parece que os políticos de Barueri entenderam isso na última eleição e passaram a investir pesado na produção de conteúdo, como lives semanais, reels explicativos, cortes de discursos bem editados.
Isso, em teoria, é algo positivo. Afinal, aproxima o eleitorado, torna a política mais acessível e permite que a população acompanhe de perto as ações dos seus representantes. No entanto, há um outro lado dessa moeda que merece uma reflexão mais profunda.
A política do show: conteúdo ou trabalho real?
A principal crítica a esse movimento é que, enquanto vereadores, secretários e o próprio prefeito se preocupam em se tornar influencers, a prática legislativa e executiva pode acabar ficando em segundo plano. A gestão de uma cidade não se faz com bons vídeos e frases de efeito. Há uma diferença entre comunicar bem e entregar resultados reais.
Quantos desses políticos realmente estão focados em fiscalizar o executivo, propor leis relevantes e lutar por melhorias concretas para a população? E quantos estão apenas gerando conteúdo estrategicamente maquiado para alimentar algoritmos e engajamento? Além disso, há a questão da edição e da narrativa construída: será que aquilo que é mostrado realmente reflete a realidade ou apenas o que vende e garante popularidade? Existe uma linha tênue entre informação e entretenimento, e quando a política se torna um espetáculo, corre-se o risco de que os problemas reais fiquem de lado, sejam ofuscados por uma estética bem produzida e discursos ensaiados.
O eleitor como fiscal da verdade
Se os políticos estão se reinventando para conquistar a fatia digital do eleitorado, a população também precisa evoluir. Não basta consumir conteúdo e se deixar levar por discursos bem editados. O cidadão precisa ir além da superficialidade dos posts e cobrar aquilo que realmente importa: ações concretas.
É necessário perguntar:
- Esse vereador que aparece todos os dias no Instagram realmente propõe e aprova projetos de lei relevantes?
- O prefeito que faz reels dinâmicos está entregando melhorias efetivas para a cidade?
- Existe transparência nas informações que estão sendo passadas? É verdade tudo que está sendo mostrado?
A internet dá poder ao eleitor, mas esse poder precisa ser usado com consciência. A fiscalização e a cobrança devem ser feitas não apenas com curtidas e compartilhamentos, mas com participação ativa, cobrança por meio de audiências públicas, fiscalização, e, principalmente, com um voto consciente nas próximas eleições.
A Tendência Irreversível: Políticos-Influenciadores
Pois é, a tendência de políticos-influenciadores é irreversível. A internet democratizou o acesso à informação e tornou a comunicação política mais direta. No entanto, isso não pode substituir o trabalho real de um vereador, secretário ou prefeito.
A população de Barueri precisa entender que likes não são sinônimo de progresso e que a fiscalização precisa ir além da superficialidade das redes sociais. O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre a transparência digital e a entrega de resultados reais, garantindo que a política não se torne apenas mais um reality show na timeline.
Gaby Morais
Moradora de Barueri (SP), Gaby Morais é estrategista e referência em representatividade feminina. Com mais de duas décadas de experiência em campanhas políticas nacionais e internacionais, a profissional é especialista em capacitar e qualificar mulheres para a política. Gaby é formada em Inteligência Estratégica, mestre em Marketing Político e Campanhas Eleitorais pela Universidade de Alcalá, na Espanha, e possui MBA em Gestão Pública. Também é criadora do podcast Voz da Vez, que debate o olhar mais humano para o futuro através da perspectiva feminina e da Revista Eletrônica Gabynete, que debate temas políticos.