As instituições de Transição de Cuidados têm ganhado cada vez mais destaque no contexto da saúde, principalmente por sua proposta de oferecer suporte a pacientes que estão em fase de transição entre diferentes níveis de cuidado. Esses pacientes, muitas vezes, enfrentam situações complexas de saúde, como a transição de hospitais para cuidados domiciliares ou a adaptação a novas condições de vida após tratamentos médicos intensivos. Neste contexto, a multidisciplinaridade emerge como um pilar fundamental para garantir um atendimento eficaz, humanizado e integrado.
A natureza da Transição e a necessidade de suporte multidisciplinar
A Transição de Cuidados implica um momento delicado na trajetória do paciente, onde ele precisa de acompanhamento médico, psicológico, social, fisioterapêutico, fonoaudiológico, adaptações assistidas com terapia ocupacional, entre outros. A fragilidade física e emocional desses pacientes exige uma abordagem que vá além da ação de um único profissional de saúde. É aí que entra a importância de um time multidisciplinar, composto por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e farmacêuticos, e outros profissionais, que colaboram de forma integrada para atender as múltiplas dimensões das necessidades do paciente.
Benefícios da Multidisciplinaridade
1. Atenção Integral ao Paciente: Cada membro da equipe multidisciplinar oferece uma visão especializada, garantindo que todos os aspectos do paciente – físico, emocional, social e psicológico – sejam cuidados. Isso é crucial para pacientes em transição, que frequentemente apresentam condições complexas e múltiplas. Por exemplo, um paciente que recebe uma atenção integral por especialistas de múltiplas áreas, consegue ter seu tratamento personalizado, dentro de todas as esferas de sua necessidade e não apenas ao evento agudo que levou ao adoecimento, mas todos os aspectos holísticos envolvidos nesse indivíduo, suas doenças pré-existentes, fragilidades de redes e suportes sociais, medos e anseios relacionados ou não ao processo e condição de saúde atual.
2. Personalização do Tratamento: A abordagem colaborativa permite que o plano de cuidados seja personalizado de acordo com as necessidades específicas do paciente. Um paciente em recuperação de um AVC, por exemplo, pode precisar de fisioterapia para mobilidade, apoio psicológico para lidar com as mudanças emocionais e orientação nutricional para otimizar sua recuperação física.
3. Redução de Erros e Reinternações: A colaboração entre profissionais de diferentes áreas melhora a comunicação, o que pode prevenir falhas no tratamento e reduzir a taxa de reinternações hospitalares. A troca constante de informações entre os membros da equipe assegura que todas as mudanças no estado de saúde sejam monitoradas de perto. Um exemplo prático se tratando desse tópico, podemos citar que dentro da sequência de atenção integral e personalização de tratamento, como esse “olhar” ao paciente e o seu entorno de forma individualizada, qualquer alteração seja ela clínica, psicossocial ou física é rapidamente detectada pela equipe multidisciplinar de acompanhamento e os planos de ação implantados de forma precoce.
4. Suporte ao Paciente e à Família: A transição de cuidados pode ser uma experiência estressante não apenas para o paciente, mas também para seus familiares. O suporte psicológico, social e educacional fornecido pela equipe multidisciplinar pode ajudar a preparar os familiares para o novo ciclo de cuidados, além de auxiliá-los na adaptação à nova realidade. Os Grupos Terapêuticos propostos principalmente pela equipe psicossocial é um exemplo claro do cuidado e importância que a rede de suporte social do paciente tem no impacto à sua reabilitação e se faz necessário nas unidades de transição de cuidados, uma vez que são grupos voltados ao acolhimento, humanização, escuta e orientações.
Desafios na implementação da Multidisciplinaridade
O trabalho em equipe exige treinamento contínuo e uma cultura organizacional que valorize a colaboração interdisciplinar. Em muitas instituições de saúde, a visão fragmentada do cuidado ainda persiste, dificultando a criação de uma equipe coesa e integrada.
A integração de diversos profissionais de saúde permite uma abordagem mais eficaz, reduzindo complicações e promovendo a recuperação mais rápida e segura. No entanto, é crucial que as clínicas de transição implementem modelos de gestão que favoreçam a comunicação e colaboração entre as equipes, além de investir em capacitação contínua para seus profissionais. Assim, é possível garantir que os pacientes transitem por esse período de mudança com mais qualidade de vida e melhores resultados clínicos.
*Michelle Mantovanelli é Fisioterapeuta, Coordenadora da Equipe Multidisciplinar da YUNA, instituição especializada em reabilitação e cuidados paliativos.