Morador denuncia cemitério municipal por descarte ilegal de corpos em ‘cercadinho de covas’ no interior de SP

Área é de propriedade do DER-SP — Foto: Arquivo pessoal
Um morador de Araçariguama (SP) denunciou o Cemitério Jardim da Paz após suspeitar da prática de descarte ilegal de corpos, que estão sendo sepultados fora do perímetro delimitado. Em nota, a concessionária CCR ViaOeste confirmou que é responsável pela área, que pertence ao estado, mas disse que não foi previamente informada ou consultada sobre o uso do trecho.
Ao g1, o morador, que preferiu não se identificar, afirma que teve conhecimento dos problemas envolvendo o cemitério ao tentar transferir o corpo de seu pai, sepultado em São Roque (SP), para a cidade. Segundo o morador, o local passa por problemas de superlotação.

“Quando ele morreu, tentei enterrá-lo em Araçariguama mesmo, porém, não tinha mais como sepultar pessoas devido à superlotação e, por causa disso, ele está ‘emprestado’ em um túmulo da família em São Roque. Me mandaram retornar em janeiro pois, até lá, alguém poderia não pagar a concessão, fazendo com que túmulos novos surgissem”, explica.

Em seu retorno ao cemitério, o morador percebeu que havia covas do lado de fora do perímetro delimitado do local. Segundo ele, uma funcionária do cemitério afirmou que a área, na verdade, pertence à CCR ViaOeste, concessionária de rodovias no interior de São Paulo.

“Por conta da quantidade de sepultamentos, passaram a enterrar pessoas no corredor. Quando voltei, já em janeiro, me deparei com diversas covas em uma espécie de ‘cercadinho’ do lado de fora. Perguntei sobre a propriedade do terreno e, durante uma conversa com uma funcionária, ela me disse que aquela área pertencia à CCR”, relata.

O homem chegou a registrar o local onde os corpos estão supostamente sendo descartados de maneira irregular. Nas imagens, é possível ver que os túmulos estão alocados antes da entrada do cemitério e são delimitados por uma cerca (assista Clique Aqui).

Além disso, ele alega que o cemitério passa por problemas sanitários constantes, como falta de abastecimento de água e desorganização no ossário, fazendo com que os esqueletos se misturem, dificultando a identificação dos corpos.

“Os corpos que chegam aqui recentemente estão etiquetados corretamente. Porém, os de antes estão misturados apenas em sacos de lixo, que se deterioram. Os ossos acabam se misturando e não é possível identificar ‘quem é quem’. É um descaso, não há sequer acesso à água encanada“, conta.

O que dizem as partes

CCR ViaOeste

Em nota, a CCR ViaOeste afirma que, durante uma vistoria no local, foi constatado que parte da área onde os corpos estão sepultados pertence ao DER e está sob concessão da concessionária e foi invadida.

Ainda conforme a nota, a concessionária notificou a Prefeitura de Araçariguama para regularizar a situação o quanto antes, de modo a atender às normas sanitárias municipais e dar uma destinação digna aos sepultados.

Cemitério Jardim da Paz

Consórcio XV de Novembro, empresa que administra o Cemitério Jardim da Paz, informou que os sepultamentos são feitos de forma totalmente regular, com os jazigos sendo lacrados a cada corpo, e que novos jazigos serão construídos e disponibilizados para venda a partir do dia 1º de março deste ano, “solucionando a superlotação”.

Com relação à água encanada, a administradora confirmou a situação e disse que está em contato com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para uma solução o quanto antes. No momento, a água do cemitério é fornecida por uma empresa terceirizada, que abastece as caixas de água entre duas e três vezes por semana.

Ainda conforme a nota, as exumações do local são feitas de acordo com as regulamentações sanitárias previstas e devidamente identificadas com lacres e fotos. No ossário, os corpos são guardados dentro de sacos especializados.

Cetesb

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) afirma que enviará representantes ao local para uma vistoria, com o intuito de constatar possíveis irregularidades sanitárias.

*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida

Por: Diogo Del Cistia*, G1 Sorocaba e Jundiaí